
É comum alguns exames que não são do nosso cotidiano, causarem receios e dúvidas sobre como funcionam, um exemplo seria a punção lombar para o exame do líquor. Esse exame extremamente importante para diagnóstico de diversas doenças ainda gera alguns medos com relação a sua coleta e na publicação de hoje tentaremos desmistificar esses receios e explicar a importância desse exame.
O que é o líquor?
O líquido cefalorraquidiano (LCR) é um líquido límpido e incolor com um volume aproximado de 90-200mL e é constituído normalmente por glicose, lactato, potássio, enzimas, magnésio e cloreto de sódio.
Essa composição é formada por filtração e transporte ativo do plexo coróide (projeções vasculares e da meninge pia-máter dentro das cavidades ventriculares) e possui a função primordial de proteção mecânica ao encéfalo e a medula espinhal contra possíveis choques e pressões. Essa proteção ocorre pela circulação do LCR entre os ventrículos cerebrais, o espaço subaracnóideo e a extensão da medula espinhal, seguindo um fluxo craniocaudal e garantindo essa proteção mecânica.
Além disso, o LCR tem outras funções como por exemplo a defesa do Sistema Nervoso Central contra agentes infeciosos, remoção de resíduos metabólicos, fornecimento de nutrientes e de regulação da pressão intracraniana.
Como o exame é realizado?
A coleta do exame pode ser realizada de três formas: por punção lombar, suboccipital e via ventricular.
A via por punção lombar é a mais comumente utilizada e é realizada inicialmente com o preparo do paciente com o posicionamento em decúbito lateral e joelhos flexionados em direção ao peito (posição fetal). Em seguida é realizada a assepsia da região da coluna onde será realizada a punção e administrado anestesia local para reduzir a dor ao realizar a punção e então, após esses processos é realizada de fato a punção lombar entre as vértebras L3-L4 ou L4-L5, permitindo a coleta do líquor no espaço subaracnóideo. Nesse momento além da coleta do LCR é possível medir a pressão liquórica com um raquimanômetro importante para os diagnósticos etiológicos.
O que pode ser descoberto com o exame do líquor?
Tomando como base a composição e a formação do LCR citada acima, podemos presumir que alterações em sua composição podem indicar processos patológicos e é com essa base fisiológica que existe o exame do líquor. Dessa maneira, informações como pressão do líquido, cor, células presentes e a química do líquido podem ser úteis para alguns diagnósticos etiológicos.
Esses diagnósticos podem ser divididos em: infecções das meninges (meningite, encefalite e mielites), hemorragia subaracnóidea processos neoplásicos e doenças infecciosas (Esclerose Múltipla, Guillain-Barré e Neuromielite Óptica).
A solicitação do exame, interpretação e condutas são de responsabilidades médicas e recomendamos que busquem um profissional para análises individuais.
Referências científicas:
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