A transição do clima seco para o período das chuvas, característico no outono e inverno, acende um alerta vermelho para os casos de dengue na população. O acúmulo de água parada nesta época do ano é um cenário perfeito para o aumento na proliferação do mosquito transmissor da doença. Dados atuais da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia divulgaram nos últimos meses em boletim epidemiológico, um aumento preocupante na incidência da dengue no estado. Na matéria de hoje, traremos informações muito importantes a respeito da dengue, seu causador e transmissor, os principais sintomas da doença, assim como seu diagnóstico e tratamento.
A dengue é uma das doenças tropicais mais importantes do mundo e sua incidência aumentou mais de 30 vezes nas últimas décadas. A dengue é considerada uma arbovirose causada por um vírus do tipo arbovírus da família Flaviridae e que possui 4 diferentes sorotipos conhecidos (DENV 1, 2, 3 e 4). Esses vírus são classificados desta forma, pois sua transmissão acontece por meio da picada de artrópodes hematófagos, popularmente conhecidos como mosquitos. No caso da dengue, o mosquito transmissor da doença é o mundialmente conhecido Aedes aegypti .
Então o mosquito Aedes aegypti é o causador da dengue?
Esse é um ponto que gera muita dúvida nas pessoas. Na verdade, o mosquito é considerado o que os cientistas chamam de vetor. Vetores são organismos que servem de meio de transporte para a transmissão de um agente patogênico. Esses organismos podem ser, por exemplo, um mosquito ou um molusco, como no caso da esquistossomose onde o caramujo Biomphalaria serve como hospedeiro intermediário para o parasita que desencadeia a doença. Portanto, a dengue é TRANSMITIDA para as pessoas pela PICADA do mosquito que carrega o VÍRUS CAUSADOR da doença.
Na dengue, os vírus são transmitidos somente pelas fêmeas do mosquito Aedes aegypti , que se alimentam de sangue para maturar seus ovos, enquanto os machos se alimentam apenas de seiva vegetal e não picam humanos. O ciclo da dengue começa quando uma fêmea é infectada pelo vírus ao se alimentar de sangue de uma pessoa que está acometida na fase aguda da doença.
Esse mosquito infectado pode então transmitir o vírus da dengue para várias pessoas ao picar para se alimentar. Uma vez infectado, a pessoa passa por um período de incubação que leva em média de 4 a 10 dias para o início dos sintomas. Após esse período, a pessoa infectada entra na fase aguda da doença, que é quando o vírus presente em seu sangue pode ser transmitido quando um novo mosquito a picar, tornando-se vetor e iniciando novamente o ciclo.
Um detalhe importante a ser destacado é que uma vez infectado, o mosquito adquire capacidade de transmissão do vírus por toda a sua vida. O tempo médio de vida de uma fêmea do mosquito é de aproximadamente uma semana, podendo chegar até duas semanas. É por esse motivo que a eliminação de focos do mosquito da dengue é tão importante. Os locais mais propícios para o desenvolvimento de novos mosquitos são em lugares que concentram água parada, onde as fêmeas depositam seus ovos. Eliminando novos criadouros, automaticamente eliminam-se novos potenciais insetos transmissores da doença. Além disso, a infecção da fêmea do mosquito pode ser também por meio hereditário. Nesse caso, as fêmeas nascidas de uma fêmea infectada já nascem com o vírus e com a capacidade de contaminar humanos. Por isso, mantenha sempre seu quintal limpo e livre do acúmulo de água parada!
Quais os principais sintomas da doença?
A sintomatologia da dengue possui alguns sinais semelhantes aos da gripe, afetando bebês, crianças e adultos. Após o período de incubação, os sintomas podem persistir por até 7 dias. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a dengue em duas categorias principais: dengue (com ou sem sinais de alerta) e dengue grave. Essa classificação referente à presença ou não de sinais de alerta tem por objetivo ajudar os profissionais de saúde a fazer uma triagem dos pacientes que necessitam de internação hospitalar. Assim, é possível monitorar o paciente para diminuir o risco de desenvolvimento de dengue grave.
Apesar de uma parcela significativa das pessoas infectadas com o vírus da dengue serem assintomáticas, uma grande parte desenvolve sintomas que podem ser leves e até mais graves, como a hemorragia ou choque. Em geral, os sintomas mais comuns são eritemas (pequenas manchas avermelhadas na pele), dores musculares e articulares, fadiga, dor de cabeça intensa, febre alta, perda do apetite, vômitos e dores atrás dos olhos. No entanto, os sintomas podem ser apenas leves em alguns casos, desaparecendo sozinhos.
Um dos sistemas do corpo humano bastante afetado pela dengue é o sistema circulatório. Vários estudos demonstraram que na maioria dos indivíduos acometidos com dengue, há um aumento da permeabilidade capilar e vazamento de plasma da corrente sanguínea para os tecidos. Nesse sentido, a presença de pequenas hemorragias é uma característica marcante e que pode aparecer nas formas mais brandas da doença. É comum observar em pacientes a presença de petéquias, que nada mais são que pequenas manchas vermelhas na pele causadas por hemorragias em capilares sanguíneos.
A coagulação sanguínea também é afetada pela infecção, sendo comum encontrar uma diminuição no número de plaquetas nos pacientes. As plaquetas são elementos da corrente sanguínea que ajudam na formação dos coágulos, prevenindo sangramentos e hemorragias. Além disso, outras substâncias presentes no sangue que contribuem para uma correta coagulação estão diminuídas na dengue, o que aumenta ainda mais a chance de hemorragias.
Como identificar o desenvolvimento da forma grave?
Ao entrar na chamada fase crítica (normalmente cerca de 3-7 dias após o início dos sintomas), o paciente deve ser monitorado de forma mais cautelosa para a identificação dos sinais de alerta.
Nesse momento, a febre geralmente diminui para abaixo de 38°C, e então os sinais de alerta associados à dengue grave podem se manifestar. A dengue grave é uma complicação potencialmente fatal, devido ao vazamento de plasma, acúmulo de líquido, dificuldade respiratória, sangramento grave ou comprometimento de órgãos. Os principais sinais que devem ser observados pelos médicos incluem forte dor abdominal, vômito persistente, respiração rápida, agitação ou confusão mental, sangramento nas gengivas, vômito com sangue.
Um mito muito comum entre a população é que a pessoa só desenvolve a forma grave da dengue se contrair a doença pela segunda vez. Isso não é verdade! De forma geral, a forma grave é mais comum em quem já teve a doença, porém pode haver complicações já na primeira vez que o indivíduo foi infectado, desenvolvendo a forma mais severa. Como existem 4 sorotipos diferentes do vírus da dengue, logo existe a chance de contrair a infecção 4 vezes. Além disso, a cada vez que contraímos a dengue por um sorotipo diferente, ficamos protegidos permanentemente contra novas infecções por aquele sorotipo em questão.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico pode ser clínico, baseado nos sintomas e no exame físico do paciente pelo médico e, posteriormente, por meio de exames laboratoriais. Dentre os exames realizados, destacam-se o hemograma, que fornece informações iniciais importantes, assim como indícios de uma evolução desfavorável. Já a sorologia para dengue, permite determinar se a pessoa possui ou não anticorpos contra o vírus.
Existe tratamento para a dengue?
Atualmente não existe tratamento específico contra o vírus da dengue. É possível apenas tratar os sintomas da doença, sendo recomendada a ingestão de líquidos para evitar a desidratação. No Brasil, existe apenas uma vacina aprovada pela ANVISA para utilização contra os 4 sorotipos virais. No entanto, ela só pode ser utilizada em indivíduos que já tiveram contato prévio com o vírus ao menos uma vez, sendo necessário realizar o teste sorológico para verificar a presença de anticorpos. Essa é uma medida necessária, pois a vacina pode provocar um quadro em que ocorre a “amplificação” da doença causada pelos anticorpos produzidos em resposta à vacina. Isso quer dizer que se a pessoa que receber o imunizante não tiver contraído o vírus da dengue antes, pode acabar desenvolvendo a forma grave da doença caso venha a ter contato com vírus transmitido pelo mosquito.
Lembrete: somente realize exames após avaliação e indicação médica.
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Referências:
Bahia. Secretaria de Saúde do Governo do Estado. Boletim Epidemiológico: arboviroses urbanas - semana 08. Arboviroses Urbanas - Semana 08. 2021. Disponível em: http://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2017/11/boletimEpidemiologico_fev2021_semana08.pdf. Acesso em: 14 jul. 2021. Bavia, L., Melanda, F. N., de Arruda, T. B., Mosimann, A. L. P., Silveira, G. F., Aoki, M. N., ... & Bordignon, J. (2020). Epidemiological study on dengue in southern Brazil under the perspective of climate and poverty. Scientific reports. Guzman, M. G., Gubler, D. J., Izquierdo, A., Martinez, E., & Halstead, S. B. (2016). Dengue infection. Nature reviews Disease primers. Hasan, S., Jamdar, S. F., Alalowi, M., & Al Beaiji, S. M. A. A. (2016). Dengue virus: A global human threat: Review of literature. Journal of International Society of Preventive & Community Dentistry. OMS. Dengue and Severe Dengue. 2021. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dengue-and-severe-dengue. Acesso em: 14 jul. 2021.
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