Fonte: Dr. Fisiologia
Exames laboratoriais são ferramentas muito importantes que, em conjunto com o histórico do paciente e os achados clínicos, auxiliam o médico a definir o diagnóstico e um tratamento eficaz.
Ter um controle de qualidade rígido na realização de exames é fundamental para garantir resultados precisos e que irão facilitar a interpretação do médico. Para isso, devem-se respeitar com rigor técnico todas as etapas de realização de exames, que compreendem as fases pré-analítica, analítica e pós-analítica.
Diferenças entre as fases dos exames laboratoriais
A fase pré-analítica está relacionada a todos os eventos que antecedem a realização do exame propriamente dito. Ou seja, envolve etapas que iniciam com a indicação do exame pelo médico, passando pela elaboração do receituário, preparo do paciente, procedimentos da coleta, além do acondicionamento, transporte e preparo da amostra.
Já a fase analítica é a etapa dedicada à análise do material coletado. Nessa fase, o bioquímico/técnico laboratorial emprega o procedimento de análise adequado para cada exame, sempre seguindo protocolos específicos do método e equipamento utilizado. No entanto, essa fase começa muito antes de realizar a análise da amostra, onde um rigoroso controle de qualidade interno precisa ser efetuado. Esse controle inclui a verificação e calibração de equipamentos e reagentes, verificação do estado de controle dos sistemas e monitorização dos processos de análises.
Por fim, a fase pós-analítica é dedicada à verificação das análises feitas na fase analítica e a liberação dos resultados pelo bioquímico responsável ao médico, que realizará a interpretação dos exames e tomada de decisão para fechar o diangóstico.
É importante ressaltar que todas as fases dos exames laboratoriais são estabelecidas pela Anvisa por meio da RDC 302/2005, que regulamenta o funcionamento de Laboratórios Clínicos
A importância dos cuidados pré-analíticos
Embora todas as fases sejam importantes para garantir a qualidade do exame, a fase pré-analítica é considerado um dos pontos crucias dentro de todo esse processo. Estudos científicos apontam que a maioria dos erros laboratoriais (cerca de 70%) ocorre devido a falhas nesta fase. Assim, a ciência avança cada vez mais para tentar identificar as fontes de erro e como evitá-las, sempre visando reduzir o impacto nos resultados finais.
Ações relativamente simples, como a correta orientação do paciente antes de cada exame são indispensáveis. Nesse ponto, o paciente deve estar muito bem informado a respeito das necessidades específicas do exame a ser realizado, como a necessidade ou não do jejum e o intervalo adequado deste, o tipo de alimentação, a prática de exercício físico, o uso de medicamentos que podem interferir na análise e mudanças abruptas nos hábitos da rotina diária antes da coleta.
Vale destacar que esta é uma responsabilidade da equipe do laboratório que irá realizar as análises, do bioquímico responsável e também do médico que prescreve o exame!
Fatores pré-analíticos que mais interferem nos exames
A depender do exame, o horário da coleta da amostra pode influenciar no resultado e isso deve ser considerado. Isso porque certos hormônios possuem variações cíclicas em sua liberação na corrente sanguínea ao longo do dia. O cortisol (o hormônio do estresse) é um exemplo, pois suas concentrações em nosso corpo são mais elevadas no período da manhã quando comparado à tarde. Essa é uma resposta fisiológica natural, onde o cortisol atua “preparando” nosso organismo para acordar e nos deixando mais alerta.
Outro fator preponderante é a necessidade de jejum. Essa condição é estabelecida porque em alguns exames as faixas de referência foram definidas baseadas em indivíduos em restrição alimentar. Além disso, alimentar-se antes do exame pode alterar a composição sanguínea, como a quantidade de açúcar no sangue (glicemia). Alguns exames exigem jejum de 8 a 12 horas, enquanto em outros não há a necessidade. Entretanto, muitas solicitações trazem uma mescla desses exames, tornando o jejum necessário nesses casos para evitar a dupla coleta.
Praticar exercícios físicos antes da coleta é desaconselhável. E isso vale até mesmo para uma caminhada um pouco mais longa e intensa! Ao se exercitar, diversas alterações fisiológicas ocorrem em nosso organismo, principalmente quanto ao metabolismo e componentes sanguíneos. Além disso, essas alterações podem persistir por um longo período, a depender da intensidade do exercício e do grau de condicionamento físico da pessoa. Portanto, sempre se deve orientar o paciente a realizar a coleta em repouso e descansado, pois assim ocorrem menos flutuações em parâmetros bioquímicos, como a glicemia e a atividade de enzimas de origem muscular, como a creatinoquinase (CK).
A utilização prévia de medicamentos pelo paciente deve ser sempre informada, pois, alguns fármacos também podem interferir nos exames. A utilização de corticóides pode aumentar a glicemia, por exemplo, o que pode causar interpretações errôneas dos resultados. Essa mesma linha de raciocínio vale para o tabagismo e para o consumo de álcool, que também podem afetar, principalmente, exames bioquímicos. Existem outros fatores que também devem ser considerados ao realizar exames laboratoriais, como o gênero, a faixa etária, a dieta da pessoa e a gestação, por exemplo.
A coleta e o correto acondicionamento e transporte da amostra são variáveis decisivas para um exame de qualidade e confiável
Esses são ponto-chaves e todo o processo de análise, pois uma coleta mal feita, assim como um transporte e acondicionamento feitos de forma inadequada podem alterar consideravelmente os resultados dos exames ou até mesmo inviabilizá-los.
Um exemplo simples é o tempo de garroteamento. No ato da coleta de sangue por punção venosa, não se deve utilizar o garrote por mais de um minuto no braço do paciente. O garroteamento excessivo pode causar hemólise do sangue coletado, inviabilizando as análises, além de alterar outros parâmetros, como dosagens de eletrólitos. Além disso, a punção venosa é um procedimento que pode ser aversivo a algumas pessoas, gerando forte estresse, o que também prejudica as análises. É dever do profissional garantir uma coleta tranquila e segura, evitando que o paciente sinta-se desconfortável.
A depender do tipo de amostra e análise que será feita, diferentes tubos de coleta podem ser utilizados. O profissional deve sempre estar atento e utilizar os tubos corretos conforme as especificações. Os tubos com tampa roxa são muito utilizados para análises hematológicas e possuem substâncias anticoagulantes (EDTA) para preservar o sangue. Já os tubos vermelhos não possuem anticoagulantes sendo usados para análises bioquímicas. Existem ainda os tubos azuis, que possuem citrato de sódio tamponado sendo utilizados para prova de coagulação em amostras. Completam a lista os tubos verdes, amarelos e cinzas que também possuem especificações distintas e se destinam a diferentes análises laboratoriais. Por fim, a correta identificação dos tubos com os dados do paciente, da amostra e da análise que será realizada são fundamentais para evitar erros na hora do processamento.
Após a coleta, os tubos devem sempre permanecer na posição vertical para evitar a hemólise. A hemólise refere-se ao rompimento das células presentes no sangue e liberação do conteúdo intracelular para o plasma sanguíneo. Esse processo afeta diretamente alguns parâmetros nos exames laboratoriais e deve sempre ser evitado.
Fatores ambientais também podem prejudicar as análises. A temperatura deve ser adequada, tanto na hora da coleta (22-25ºC) quanto no armazenamento da amostra. A depender do tipo de amostra e da análise a ser feita, o acondicionamento pode ou não necessitar de refrigeração. A luz também pode interferir em algumas dosagens, como de bilirrubina, que deve ser mantida longe da exposição de luz.
Além destes, existem outros cuidados e procedimentos que devem ser seguidos para garantir a qualidade dos exames laboratoriais. É dever do profissional bioquímico/ técnico laboratorial estar ciente e colocar em prática as boas práticas nas análises clínicas. Da mesma maneira, é muito importante o paciente estar sempre bem informado dos procedimentos que devem ser realizados antes de um exame. No Laboratório Biocenter, contamos com uma equipe especializada e treinada para garantir que todos os exames sejam feitos seguindo os mais rigorosos critérios de controle de qualidade. Tudo isso para garantir exames com qualidade, precisão e segurança!
Lembrete: Somente realize exames e testes após avaliação e indicação médica.
Nós, do Laboratório Biocenter, assumimos o compromisso de deixá-los sempre bem-informados e atualizados, trazendo conteúdos relevantes e de qualidade para você.
Referências:
Referências:
Alavi, N., Khan, S. H., Saadia, A., & Naeem, T. (2020). Challenges in Preanalytical Phase of Laboratory Medicine: Rate of Blood Sample Nonconformity in a Tertiary Care Hospital. EJIFCC.Programa Nacional de Controle de Qualidade. A importância dos cuidados pré analíticos nos exames de laboratório. Disponível em: https://pncq.org.br/a-importancia-dos-cuidados-pre-analiticos-nos-exames-de-laboratorio/Programa Nacional de Controle de Qualidade. (2014). RDC 302:2005 Regulamento Técnico para Funcionamento de Laboratórios Clínicos. Disponível em: http://sbac.org.br/wp-content/uploads/2016/01/RDC-302-ANVISA-comentada.pdf.Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (2014). Recomendações para Coleta e Preparo da Amostra Biológica. Disponível em: http://www.sbpc.org.br/upload/conteudo/livro_coleta_biologica2013.pdf.
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